O Corredor Ecológico do Vale do Paraíba, organização da sociedade civil que completa 15 anos agora em 2024, descobriu a resposta: o verbo restaurar contempla infinitas ações. E a missão é descobrir novas possibilidades diariamente.
Para celebrar a data, o Corredor Ecológico realiza neste dia 5 de dezembro, das 8h30 às 13h, um encontro para discutir os impactos das mudanças climáticas na região do Vale do Paraíba e para apresentar uma nova ferramenta à sociedade, o "Mapas do Vale". O encontro é para convidados, no Viveiro Municipal de Jacareí (SP).
Essa constante reflexão sobre a floresta e sobre possibilidades de restauro guia o trabalho do Corredor Ecológico, projeto que nasceu com o objetivo de criar – como o nome já sugere – corredores ecológicos para interligar diferentes fragmentos de Mata Atlântica na região do Vale do Rio Paraíba do Sul, conectando 150 mil hectares de floresta.
Para tanto, foi desenvolvida uma metodologia chamada "Linhas de Conectividade" para investir de forma estratégica e criar um corredor de 6.000 hectares de área restaurada.
As linhas de conectividade são como fios condutores, que unem os fragmentos da mata nativa na região. Desta forma, o que se pretende é interligar o que antes estava isolado, permitindo o fluxo biológico de animais e sementes, além de conciliar conservação da biodiversidade, proteção dos recursos hídricos e desenvolvimento ambiental e socioeconômico da região.
Um trabalho de muitas mãos
Só um bom projeto, no entanto, é insuficiente para garantir o sucesso das ações. A equipe do Corredor Ecológico defende que é fundamental engajar toda a sociedade – as pessoas do campo e das cidades, as empresas, os produtores rurais, as autoridades públicas, as escolas e universidades, entre outros – para que as ações de restauração sejam eficazes.
"Para conseguirmos conectar florestas, precisamos primeiro conectar pessoas. Precisamos ouvir, construir juntos. Nestes 15 anos, conseguimos entender e mostrar isso: o mais importante são as pessoas neste processo de construção da conexão florestal", afirma Mariana Ferreira, secretária-executiva da organização.
Ela explica que é fundamental que a sociedade esteja integrada às decisões envolvendo ações de restauração florestal, arranjos produtivos e possibilidades econômicas locais. "Não somos nós quem decidimos a melhor realidade para as pessoas. As soluções vêm da observação do ambiente, da conversa, do entendimento de todos. Nós estamos a serviço da comunidade", afirma Mariana.
Esse diálogo é determinante nas ações de restauração e educação ambiental. O método assegura que as demandas da população local sejam supridas – sempre, é claro, considerando práticas sustentáveis.
"Conectar pessoas é o grande propósito do Corredor Ecológico. É só assim que a gente faz floresta", aponta Mariana.
Mapas do Vale
Com esse olhar no horizonte, o Corredor Ecológico vai promover a mesa-redonda "Cenários e Perspectivas diante da Realidade das Mudanças Climáticas na Região" durante o evento no dia 5 de dezembro.
Participam do bate-papo a gestora pública Claude Mary de Moura (secretária de Meio Ambiente e Zeladoria Urbana de Jacareí); a doutora em Desenvolvimento Sustentável Suzana Padua (presidente do Ipê - Instituto de Pesquisas Ecológicas); e o PhD em Ciências do Sistema Terrestre - Mudanças Climáticas e Desastres Pedro Ivo Mioni Camarinha (Cemaden - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Eles serão mediados pela jornalista especializada em Meio Ambiente e Ciência Nádia Pontes.
Além do debate, o Corredor Ecológico apresenta o "Mapas do Vale", uma ferramenta inédita na região que possibilitará um olhar amplo para todo o território da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, a RMVale. "O Corredor se tornou, ao longo dos últimos 15 anos, referência em geoprocessamento, sensoriamento remoto e planejamento de paisagem. E o que queremos é disponibilizar esse conhecimento a todos, para contribuir com pesquisas, projetos, políticas públicas", afirma a analista do Corredor Carolina Ferreira.
Ela explica que o "Mapas do Vale" oferece um entendimento da dinâmica da paisagem e suas possibilidades legais, o que ajuda a identificar caminhos para beneficiar produtores, comunidade e o planejamento da ocupação do território de maneira sustentável, entre outras utilizações. "É uma ferramenta para pensar estratégias e planejar plantios, para buscar soluções em questões voltadas à emergência climática. É uma contribuição para todos, com o objetivo de democratizar esse entendimento da paisagem do Vale e integrar políticas e soluções", completa Carolina.
Mais florestas, mais água
Restaurar paisagens e florestas é fundamental para conservar os solos e promover a segurança hídrica. A restauração ajuda a proteger as áreas de mananciais e nascentes dos rios e é um aliado contra a crise hídrica – que, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, está no topo da lista de impactos mais temidos em escala global.
Com 39 cidades, a região do Vale do Rio Paraíba do Sul carrega a nascente do rio – que percorre aproximadamente 180 cidades. A bacia abastece cerca de 14 milhões de pessoas de três estados diferentes: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No estado fluminense, suas águas são responsáveis por 90% do abastecimento da região metropolitana da capital.
O Corredor Ecológico incentiva proprietários de terra a preservar e recuperar nascentes, garantindo que os mananciais que nascem no Vale do Paraíba continuem oferecendo água em abundância e qualidade.
Mais informações sobre o Corredor Ecológico:
A atuação do Corredor Ecológico, nos três eixos da sustentabilidade
Social:
O processo de restauração florestal começa com o protagonismo local, a partir da mobilização da comunidade, com ações de educação ambiental, seja com o público diretamente envolvido, seja com a população dos arredores.
Ambiental:
O Corredor Ecológico desenvolve e aplica metodologias específicas, conforme a necessidade: conexão dos fragmentos isolados da Mata Atlântica; restauração convencional; agroflorestas. O foco é sempre na ampliação da oferta de serviços ecossistêmicos relacionados à água e à biodiversidade.
Econômico:
A colaboração do Corredor Ecológico tem um olhar especial para o futuro, associando a iniciativa ambiental ao desenvolvimento econômico. Estudam-se manejos inteligentes para a propriedade rural, auxiliando o proprietário na geração de renda, sempre com respeito à cultura da região.
Números
O Corredor Ecológico já promoveu a recuperação de 500 hectares (o equivalente a 500 campos de futebol), com mais de 830 mil árvores plantadas.
Mais de 100 propriedades privadas participaram desse processo, mobilizando mais de 7.000 pessoas, entre produtores, agentes públicos, escolas e comunidade.
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