top of page

Solo perde mais carbono virando monocultura do que pegando fogo

  • Foto do escritor: Solano Ferreira
    Solano Ferreira
  • 10 de abr.
  • 3 min de leitura

Práticas de agricultura regenerativa ajudam a diminuir a perda de carbono em monoculturas; estoque é associado à saúde e fertilidade do solo, indica estudo 


Karina Custódio* 


Monoculturas submetidas a práticas insustentáveis armazenam menos carbono do solo do que florestas queimadas periodicamente. É o que mostra pesquisa publicada na revista científica Catena, com colaboração de pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). 


Realizado na Estação de Pesquisa Tanguro, o estudo mostra que solos usados para plantio de uma única cultura por mais de uma década perdem 38% dos seus estoques de carbono. Nas florestas, há 16% de perda em solos queimados anualmente e 19% de perda em solos que sofreram incêndios a cada três anos. Ou seja, o solo perde o dobro de carbono quando é transformado em monocultura em comparação a florestas que sofrem queimadas recorrentes. Ao comparar com o carbono presente no solo de florestas conservadas, a concentração é três vezes menor.

Leonardo Maracahipes-Santos, pesquisador do IPAM e coordenador da Estação de Pesquisa Tanguro, um dos autores do estudo, destaca a necessidade de ampliar as práticas sustentáveis na agricultura, uma vez que essas ações podem mitigar a emergência climática. 


"A perda de carbono em sistemas agrícolas varia conforme as práticas de manejo e o tipo de cultivo. Agroflorestas, que integram árvores e produção agropecuária, geralmente aumentam ou mantêm os estoques de carbono devido à capacidade das árvores de sequestrar carbono e melhorar a qualidade do solo. Já as monoculturas, mesmo sem queimadas, podem perder carbono por outros fatores, tais como erosão do solo e uso intensivo de maquinário", explica Maracahipes-Santos. 


O pesquisador aponta ainda que a inserção de práticas da agricultura regenerativa em monoculturas reduz a perda de carbono do solo, diminuindo, consequentemente, as emissões de gás carbônico e mitigando a emergência climática. Entre essas práticas estão a cobertura vegetal, a restauração de florestas ao redor de lavouras e o plantio direto. 


"A Amazônia tem enfrentado queimadas florestais frequentes e conversão de floresta para agricultura. Grande parte das pesquisas focaram em quantificar os impactos desses usos sobre a biomassa acima do solo. Nosso estudo mostra o legado e a magnitude de queimas frequentes e conversão de floresta para agricultura sobre a matéria orgânica do solo e outros atributos de saúde do solo no Arco do Desmatamento Amazônico", indica Mário Medeiros-Naval, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) e primeiro autor do artigo. 


Saúde do solo 


As análises também identificaram uma correlação entre o aumento de estoque de carbono e a maior fertilidade do solo. Isso indica que adotar práticas mais sustentáveis em monoculturas, que favoreçam o acúmulo de carbono, pode gerar solos mais férteis e reduzir a necessidade de fertilizantes. 


A pesquisa atesta que a saúde do solo em monoculturas é pior do que em florestas queimadas anualmente. O solo presente nas lavouras é mais compactado, com menor teor de nitrogênio e matéria orgânica, o que reduz a capacidade de armazenar nutrientes e dificulta o crescimento de plantas, aumentando a dependência de fertilizantes. 


A área de monocultura estudada já adotava o plantio direto e aplicação de calcário, práticas mais sustentáveis, desde 2008, o que reduziu a acidez do solo e aumentou a disponibilidade de alguns nutrientes. No entanto, a redução de matéria orgânica levou a características incompatíveis com solos saudáveis. 


Como a pesquisa foi feita

Recolhimento das amostras (Foto: Mário Naval-Medeiros)

Para determinar o nível de carbono e saúde do solo, os pesquisadores selecionaram quatro áreas na mesma região: uma floresta queimada experimentalmente anualmente, uma queimada a cada três anos e uma área de floresta intacta. 


Amostras de solo foram coletadas em 11 pontos em cada área, foram analisadas tanto partes mais superficiais do solo (10 a 20 centímetros), quanto mais profundas (20 a 30 centímetros). 


Os pesquisadores avaliaram, em laboratório, a presença de carbono, nitrogênio, matéria orgânica, densidade e outros nutrientes. Permitindo determinar a qualidade dos solos examinados.


*Karina Custódio é Analista de comunicação IPAM


Comments


Quem somos

O Blog MUNDO E MEIO é um canal de comunicação segmentado para o jornalismo ambiental, sustentabilidade, economia responsável, pesquisas que apresentam resultados transformadores, tecnologias e inovações que ajudam na vida sustentável.

Enfim, somos guiados pelo interesse coletivo visando a vida equilibrada neste planeta, de forma que as futuras gerações encontrem condições naturais e humanas que garantam a continuidade dos ciclos vitais.

Presamos pela verdade, pelo jornalismo ético e acreditamos que é possível melhorar a vida no meio em que vivemos com práticas responsáveis que levam para o equilíbrio e promovam o desenvolvimento sustentável. Por isso, tudo o que publicamos, buscamos evidências que comprovem e afirmam o que está destacado no conteúdo.

TIPOS DE CONTEÚDOS:

Notícias: publicações de fatos e acontecimentos do cotidiano que sirvam para a reflexão e para a criação de múltiplos pontos de vista soabre o tema.

Análises: Textos produzidos por especialistas e conhecedores de temas que possam contribuir com a formação da opinião e do discernimento sobre o assunto abordado.

Opinião: Textos produzidos por pessoas com amplo domínio quanto ao assunto tratado.

Pesquisas: Conteúdos de divulgação de resultados de pesquisas que favoreçam para a sustentabilidade tendo como autores profissionais e instituições renomadas que possam certificar originalidade e segurança de resultados.

Conteúdo patrocinado: Informações de interesse público produzidos e distribuídos por empresas ou instituições tendo como finalidade mostrar suas mensagens e ideias dentro do contexto editorial deste periódico.

Fale conosco

SF Comunicação e Marketing

Rua Patápio Silva, 5412 bairro Flodoaldo Pontes Pinto

CEP 76820-618 Porto Velho - RO

WhatsApp: 69 99214-8935

Editor Responsável: Solano de S. Ferreira DRT/RO 1081

E-mail: redacao.mundoemeio@gmail.com

  • Black Facebook Icon
  • Black Twitter Icon
  • Black Instagram Icon

Gratos pelo contato

bottom of page