Foto: Alexandre Cruz Noronha / Amazônia Real
As medições de temperatura global de longo prazo estão falhando em capturar a taxa crescente de aquecimento do planeta. É o que aponta relatório lançado nesta segunda (23), pelo Grupo Consultivo para a Crise Climática (CCAG). Segundo os especialistas, isso mascara a verdadeira extensão e riscos de aumentos ininterruptos da temperatura, que já causam efeitos em comunidades vulneráveis e países, incluindo o Brasil.
O documento vem à tona na Semana do Clima de Nova Iorque (EUA), maior evento global anual sobre mudanças climáticas. Ele faz parte de uma série de análises feitas de forma independente pelo CCAG e divulgadas à imprensa brasileira em primeira mão pela Bori. O grupo reúne 16 especialistas do clima de dez países diferentes, entre eles o Brasil, com a missão de impactar na tomada de decisão sobre a crise climática.
O trabalho pede uma maior precisão nos esforços de monitoramento para limitar o aumento das temperaturas globais em até 1,5ºC. Ele recomenda a ampliação das metas climáticas para incluir os níveis atmosféricos de gases de efeito estufa, que são indicadores críticos em “tempo real” das mudanças climáticas.
Essa avaliação é baseada na análise dos desafios únicos enfrentados pelo Brasil, Gana, Estados Unidos e Índia no contexto da transição energética e crise climática.
No caso brasileiro, o relatório aponta que o país está fora do caminho para a redução de emissões de gases de efeito estufa até 2030, por causa do desmatamento contínuo da floresta amazônica e de outros ecossistemas e do investimento na produção de petróleo. Sem uma ação rápida, segundo os especialistas, o mundo corre o risco de perder um escudo vital contra a crise climática.
Desde a eleição do presidente Lula para o terceiro mandato (2023-2026), o desmatamento na Amazônia foi parcialmente reduzido, mas as taxas aumentaram em outros biomas, como o Cerrado – o que, de acordo com o documento, é um lembrete de que danos continuam a ser causados. A floresta é um importante depósito natural que captura e absorve o carbono.
A produção de petróleo brasileira atinge 3 milhões de barris por dia, colocando o Brasil entre os dez maiores produtores mundiais. Assim, o petróleo acaba representando 44% do consumo total de energia do país – o que impõe desafios para a transição energética, em direção a fontes de energia sustentáveis.
“O Brasil está enfrentando o desafio de apoiar a sua economia e reduzir a pobreza”, avalia a pesquisadora Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), membro do CCAG. “Forças políticas relevantes estão defendendo o uso de mais receita de exploração de petróleo para fazer isso, ao mesmo tempo que financiam investimentos em energia renovável – mas isso é claramente insustentável”, pontua.
Bustamante comenta que, assim como outros países, o Brasil enfrenta uma crise de custo de vida e deve equilibrar as pressões econômicas e políticas de curto prazo com metas climáticas de longo prazo. “Dada a importância crítica das vastas florestas tropicais do Brasil para a estabilidade climática, é imperativo que o Norte Global forneça suporte eficaz para suavizar o caminho para um futuro sustentável”.
“A trajetória atual de aumento da temperatura global está jogando a humanidade em direção ao desastre”, destaca David King, líder do CCAG. Esse relatório, no entanto, mostra que ainda há o que ser feito para que isso seja evitado.
Nesta linha, o relatório do CCAG traz quatro recomendações para reverter a trajetória climática atual: promover a equidade global por meio de finanças, liderança e colaboração; desvincular o bem-estar do consumo de combustíveis fósseis; acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis; e proteger a biodiversidade e as comunidades indígenas, parte crítica da resposta climática global para limitar os aumentos de temperatura. “Um futuro seguro para a humanidade ainda está ao nosso alcance, mas somente se todas as nações tomarem medidas urgentes”, finaliza King.
Fonte: Agência Bori
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