Por Caio Queiroz*
Fernando de Noronha é um dos maiores tesouros naturais do Brasil, reconhecido mundialmente por sua beleza e biodiversidade. Como área de proteção ambiental, o arquipélago atrai turistas de todas as partes, mas enfrenta desafios que comprometem seu desenvolvimento sustentável. Frequentando a ilha há anos, vejo de perto esses obstáculos e acredito firmemente que a colaboração entre o setor privado e o governo é fundamental para superá-los e deixar um legado duradouro.
Um dos problemas críticos enfrentados por Noronha é a recuperação de áreas desmatadas ao longo das últimas décadas. Espécies exóticas plantadas no local contribuíram para um desequilíbrio ambiental. Para combater isso, empresas privadas, em parceria com institutos de preservação, têm implementado projetos de reflorestamento. A doação de viveiros com alta capacidade de produção de mudas de plantas nativas é um exemplo concreto dessa cooperação, que visa restaurar o ecossistema local.
A distância de 300 km da costa impõe barreiras logísticas ao desenvolvimento da ilha, afetando o transporte de insumos, o custo de vida e a implementação de soluções energéticas sustentáveis. Embora a principal fonte de energia ainda seja o biodiesel, que responde por 90% da geração, a busca por alternativas mais limpas é uma prioridade. Além disso, a dessalinização da água do mar, ainda com altos custos, é a principal fonte de água potável, mostrando a necessidade de inovação contínua.
Outro desafio crítico é o gerenciamento de resíduos. Com a produção de cerca de 200 toneladas de lixo por mês, esse problema se agrava durante a alta temporada turística. Graças à união de forças municipal e privada, a ilha já dispõe de 300 contêineres, coletores seletivos e ecopontos, além de usinas de tratamento de resíduos sólidos. Essas medidas são essenciais para proteger a vida marinha e evitar impactos ambientais negativos.
O bem-estar dos mais de 3 mil residentes de Noronha também está no centro dessas iniciativas. Além de melhorias em infraestrutura, como projetos de iluminação pública em áreas como praças, que atendem às demandas dos moradores, há uma crescente atenção à saúde mental da população. Programas de apoio psicológico, tanto para os residentes quanto para os trabalhadores temporários que chegam à ilha, estão sendo desenvolvidos para lidar com os desafios emocionais do isolamento geográfico e da intensa temporada turística. Essas ações demonstram o compromisso com a qualidade de vida local, buscando garantir um ambiente saudável e equilibrado para todos.
Nos últimos anos, Noronha tornou-se palco de eventos culturais e esportivos, apoiados por marcas e governos, como apresentações musicais, festivais de cinema, corridas e esportes aquáticos como o kitesurf. A tradicional corrida de Noronha, por exemplo, agora adota uma abordagem ambiental, com iniciativas de plantio de árvores, transformando esses eventos em ações recorrentes com impacto positivo.
Para intensificar os debates socioambientais que envolvem o arquipélago, a ilha tem sediado fóruns que reúnem grandes empresas, ONGs, governo e representantes locais. Esses encontros buscam soluções colaborativas para os desafios do desenvolvimento sustentável, promovendo uma troca de ideias e ações concretas para garantir o futuro de Noronha.
Com o turismo sendo a principal atividade econômica da região — e registrando um aumento de 13,36% no fluxo de visitantes no primeiro semestre deste ano, segundo o ICMBio —, é essencial que essa atividade continue a ser desenvolvida de forma sustentável. O cuidado com o ambiente natural e com as pessoas que tornam a experiência dos turistas memorável é vital para garantir o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação.
*Caio Queiroz é CEO da empresa Aguama Ambiental, que promove vários projetos na região e organizou o I Fórum de Sustentabilidade e Turismo de Noronha.
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