Relatório técnico "A Bioeconomia Global" avalia como as principais economias do planeta organizam e implementam a bioeconomia em seus territórios, a fim de mapear o potencial do setor e estimular o debate internacional. Estudo foi desenvolvido pela Nature Finance em parceria com IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (Fundação Getúlio Vargas), em antecipação à reunião oficial da Iniciativa de Bioeconomia do G20.
A bioeconomia abrange uma variedade de setores da economia que fazem uso sustentável de recursos naturais, incluindo áreas da agricultura, pesca, silvicultura, bem como a produção de alimentos, medicamentos e bioenergia. No seu relatório anual, o Fórum Mundial de Bioeconomia estima o valor total da bioeconomia mundial em US$ 4 trilhões, podendo chegar a US$ 30 trilhões, cerca de um terço da economia global, até 2050.
Países do G20 são responsáveis por cerca de 75% das emissões globais de gases de efeito estufa e 80% da economia global. Apesar disso, os membros estão alinhados nas áreas de biotecnologia, uso sustentável da biodiversidade e desenvolvimento sustentável, embora adotem termos diferentes para descrever cada área.
Dessa forma, segundo o relatório, ampliar as iniciativas internacionais e os investimentos em áreas da bioeconomia poderia frear grande parte das emissões globais, ao mesmo tempo que garantiria prosperidade econômica e crescimento sustentável às principais economias do planeta.
"Fazemos um apelo para o G20 para que a bioeconomia se torne de fato um instrumento de mudança do paradigma de desenvolvimento econômico atual. Nossa base hoje é uma economia exploratória, com crescimento indefinido da exploração e com pouca distribuição de renda sobretudo para os mais necessitados", aponta Patrícia Pinho, diretora adjunta de Pesquisa do IPAM.
Na presidência do G20 até novembro de 2024, o Governo brasileiro deu sinalizações positivas à bioeconomia, que encontra campo fértil na Amazônia e outros biomas do País. Assim, a pesquisa pretende apoiar discussões em torno do tema, reforçando a importância da cooperação internacional e o potencial da área na desaceleração do desmatamento e no desenvolvimento econômico sustentável no sul global.
"O potencial do Brasil na bioeconomia é incrível. Temos, somente na Amazônia, mais de 700 produtos de sociobiodiversidade identificados, dentre eles o açaí, a castanha, a andiroba e o próprio cacau. O que a gente precisa é ter modelos que sejam compatíveis com a sustentabilidade, geração de renda e equidade para que o conhecimento tradicional que gerou esses produtos seja preservado e para que a gente não caia na mesma lógica de modelos insustentáveis", destaca Patrícia.
Mudança de paradigmas
Segundo o estudo, é fundamental que a bioeconomia seja inserida nos debates do G20, assim como outras cúpulas internacionais, tendo em vista que o modelo envolve a implementação de novas abordagens de financiamento. Segundo o documento, o debate deve reconduzir a organização financeira global, que tende a não levar em conta modelos equitativos e positivos para a natureza.
"Temos que destacar o compromisso com o desmatamento zero. Nenhuma cadeia dessa biodiversidade pode conter nenhum traço de desmatamento. Também precisamos diversificar nossos modos de produção, distanciado a produção da lógica das commodities e atrelar a produção sustentável à lógica de cada paisagem. Se a gente atrelar a bioeconomia a princípios de inclusão, participação e distribuição e incluí-la nos processos de financiamento, ela se torna também um modelo que pode colaborar com a justiça climática", conclui Patrícia.
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