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Foto do escritorSolano Ferreira

Dados enviados pelo público geram registros inéditos de anfíbio exclusivo da Mata Atlântica

Foto: João Victor A. Lacerda / Acervo pesquisadores

anfíbio
Sapinho-de-chifre-paviotii foi identificado por cientistas cidadãos no município de Santa Tereza (ES)

Gravações e fotografias enviadas por cidadãos cientistas permitiram o mapeamento de novas ocorrências do sapinho-de-chifre-paviotii (Proceratophrys paviotii), um anfíbio exclusivo da Mata Atlântica, no município de Santa Teresa, no Espírito Santo. Com a localização desses indivíduos, especialistas realizaram coletas inéditas de material genético e gravações do repertório vocal dessa espécie. O resultado desse trabalho está no artigo publicado nesta quarta (23) na revista internacional “PeerJ” por pesquisadores de instituições como Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Universidade Federal do ABC (UFABC).


Em 2020, pesquisadores do INMA criaram o projeto “Cantoria de Quintal”, que conta com a participação do público na realização de registros de ocorrências de espécies de anfíbios no estado. Utilizando o aplicativo telefônico Whatsapp, pessoas de diferentes idades, realidades e localidades interagem com especialistas enviando arquivos de sons ou imagens desses animais. Em menos de quatro anos, o projeto recebeu mais de 900 arquivos enviados por 160 cidadãos cientistas, contemplando cerca de 40 espécies, incluindo algumas ameaçadas de extinção, raras ou pouco conhecidas pela ciência.


Entre os registros, chamaram a atenção dos pesquisadores os do sapinho-de-chifre-paviotii, por ser considerada uma espécie pouco conhecida e classificada como Quase Ameaçada de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Ao todo, 42 registros foram enviados por 10 cidadãos cientistas na região de Santa Teresa. Essas ocorrências foram enviadas utilizando a ferramenta de “Localização” do aplicativo Whatsapp, sendo assim possível um mapeamento preciso da espécie.


Direcionados por algumas dessas ocorrências, os especialistas realizaram pesquisa de campo para gravação do repertório vocal utilizando gravadores apropriados e coleta de material genético. Em laboratório, as gravações foram analisadas utilizando softwares específicos e o DNA foi extraído das amostras, sequenciado e comparado aos demais sapinhos-de-chifre, o que confirmou realmente tratar-se de uma espécie única, distinta de todas as demais do planeta e evolutivamente mais relacionada a três outros sapinhos-de-chifre que ocorrem no Nordeste e Sudeste do Brasil (Proceratophrys cururu, P. renalis e P. laticeps).


Para estimular um maior engajamento do público em diferentes etapas de pesquisa, os cientistas têm estreitado laços com estudantes e professores do Ensino Básico, bem como gestores, funcionários, guias turísticos e demais visitantes de Unidades de Conservação. “O estudo representa um exemplo prático e bem-sucedido de como o maior engajamento da sociedade em projetos de pesquisa, abordagem conhecida como Ciência Cidadã, pode ser benéfico para a ampliação do conhecimento científico e conservação das espécies”, destaca João Victor A. Lacerda, pesquisador do INMA e um dos autores do artigo.


O estudo apontou que, ao contrário do que se pensava, o sapinho-de-chifre-paviotii não é tão raro assim, tendo sido reportado por cidadãos cientistas até mesmo em quintais e poças de chuva formadas em ruas e calçadas. “Ainda assim, a vigília deve ser constante. Recomendamos a busca por populações desconhecidas dessa espécie e que sejam realizados programas de monitoramento”, explica Sarah Mângia, pesquisadora da UFMS e também autora do estudo. “A partir da publicação desse estudo, esperamos inspirar e estimular o surgimento de iniciativas semelhantes, sobretudo em nosso país, o mais diverso em espécies de anfíbios do planeta”, completa Lacerda.



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