Os alimentos ultraprocessados são formulações industriais que apresentam poucos ingredientes de origem natural e têm muitos aditivos químicos como os que simulam sabor e aroma. No estado de Pernambuco, a renda é uma variável determinante para a ingestão deste tipo de alimento. Adultos que ganham menos de meio salário mínimo consomem três vezes mais ultraprocessados do que aqueles com renda superior a um salário mínimo. A constatação de cientistas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) está em artigo científico publicado nesta segunda (29) na “Revista Brasileira de Epidemiologia”.
FOTO: VU NGHI THAI / UNSPLASH
Os ultraprocessados também são três vezes mais frequentes na alimentação de jovens pernambucanos de 20 a 29 anos do que entre adultos de 50 a 59 anos. Segundo o artigo, os alimentos ultraprocessados mais consumidos pela população adulta de Pernambuco são margarina, bolacha tipo cream cracker e suco artificial, enquanto os in natura mais populares são bananas, saladas cruas e laranjas.
Para medir esse tipo de consumo, foram utilizados dados da Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição (PESN), realizada entre 2015 e 2016 pelo Departamento de Nutrição da UFPE. A pesquisa contou com 1.067 participantes em uma amostra representativa do estado. A avaliação de renda levou em consideração o valor do salário mínimo no período da coleta de dados – R$ 788,00 em 2015 e R$ 865,50 em 2016.
Os pesquisadores observaram que, entre pessoas com maior renda, o consumo de frutas, legumes e verduras é maior – e essa ingestão vai diminuindo conforme a redução da renda. “Populações com contexto social e econômico mais vulnerável têm uma alimentação mais restrita porque boa parte da renda é destinada à compra de alimentos, mas dos mais baratos, que atualmente são os ultraprocessados”, avalia Renata Kelly, pesquisadora da UFPE e uma das autoras do artigo. Por isso, a taxação de alimentos ultraprocessados e os incentivos à agricultura familiar são medidas urgentes de proteção à saúde, pondera a autora.
Além do recorte socioeconômico e de faixa etária, a pesquisa avaliou hábitos de estilo de vida, como consumo de álcool e prática de atividade física. O índice de massa corpórea (IMC), que é um importante indicador de doenças como a obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis, também foi uma variável considerada pela análise. Segundo o artigo, pessoas que mais consomem álcool e com maiores IMC também são as que mais consomem frutas, legumes e verduras. “É contraditório, mas pode acontecer porque eles recebem mais orientações de profissionais de saúde e isso pode gerar mudança positiva no comportamento alimentar”, explica Kelly.
A pesquisa aponta que a população rural está 52% menos exposta ao consumo médio-alto de ultraprocessados. Porém, mesmo tendo maior acesso a alimentos in natura e ainda consumindo-os mais do que a população urbana, como tem sido mostrado em pesquisas nacionais, os habitantes de áreas rurais têm apresentado comportamento de consumo crescente de ultraprocessados. Portanto, a partir deste levantamento, o grupo da UFPE pretende focar estudos futuros nessa parcela da população. “É importante que esse tipo de estudo sirva para ajudar na busca por estratégias de prevenção, uma vez que a alimentação está muito relacionada a doenças metabólicas”, afirma Kelly.
Fonte: Agência Bori
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