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Aquicultura na Amazônia promove segurança alimentar com menos impacto do que a pecuária

  • Foto do escritor: Solano Ferreira
    Solano Ferreira
  • 14 de mar.
  • 4 min de leitura

Agência FAPESP* –André Julião | Agência FAPESP – A aquicultura emite dez vezes menos gases de efeito estufa e utiliza entre 20 e 100 vezes menos terra por tonelada de proteína animal produzida do que a pecuária. Por essa e outras razões, pode ser uma forma de se obter segurança alimentar de forma mais sustentável na Amazônia.


Foto: Felipe Pacheco
Foto: Felipe Pacheco

É o que aponta um estudo publicado na revista Nature Sustainability por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, parte deles apoiada pela FAPESP.


“A aquicultura teve uma série de incentivos na Amazônia a partir dos anos 1980 e se expandiu exponencialmente desde esse período. Tem como vantagem ser uma alternativa mais sustentável à criação de gado, responsável por cerca de 80% do desmatamento da Amazônia nos últimos 30 anos. Ao mesmo tempo, precisa ser mais estudada quanto a seus impactos, até mesmo para alcançar mercados internacionais”, conta Felipe Pacheco, pesquisador do programa Eric & Wendy Schmidt AI in Science da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, e primeiro autor do artigo.


Os pesquisadores reuniram dados sobre a atividade em cinco países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru) dos oito que abrigam a Amazônia. Entre eles, o Brasil é o maior produtor de peixes, sendo o Estado de Rondônia responsável pela maior parte da produção de espécies nativas.


“O tambaqui tem um mercado consolidado na região Norte e sua rusticidade, aliada às altas taxas de crescimento e eficiência na conversão alimentar, reforça seu potencial de expansão para outras regiões do país e até mesmo para mercados internacionais”, aponta Marta Ummus, analista da Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO), que também assina o paper.


Além da FAPESP, o estudo contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (FAPT) e da Fundação de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (Fapero), no âmbito da Iniciativa Amazônia+10.


“Precisamos aprimorar os dados existentes sobre a atividade para que uma eventual expansão seja feita sobre bases científicas sólidas, conhecendo e respeitando os limites que o ambiente pode suportar”, afirma Jean Ometto, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e um dos coordenadores do projeto.


Expansão, desde que sustentável


Segundo os autores, a atividade ainda tem potencial para ser expandida na região amazônica, mas precisa levar em conta alguns fatores. Um deles é a dificuldade de entendimento dos processos de licenciamento ambiental da prática, que variam de um Estado para outro, além da necessidade de um monitoramento contínuo para aumentar a assertividade dos processos e garantir a conformidade e sustentabilidade da produção.


O barramento de igarapés para a criação de peixes, por exemplo, por muito tempo foi permitido e ainda é realizado em alguns locais. A prática impacta a conectividade dos corpos d’água e prejudica a biodiversidade aquática, inclusive de espécies economicamente importantes para a pesca.


Outros exemplos incluem o cultivo desrespeitando protocolos de sanidade animal e do ambiente. Administrar a ração em excesso, por exemplo, pode levar ao acúmulo de matéria orgânica no fundo dos viveiros e a um consequente aumento na emissão de gases de efeito estufa, como o metano. O excesso de nutrientes pode ainda ser carreado para os rios e desestabilizar as cadeias alimentares.


Os pesquisadores ressaltam que uma eventual expansão da atividade poderia se aproveitar de pastagens degradadas para a instalação de novos tanques, sem aumentar o desmatamento. Estudos já demonstraram que a ocupação dessas áreas pela aquicultura emite menos gases de efeito estufa do que simplesmente deixá-las abandonadas. Além disso, a atividade é mais produtiva. Produzir uma tonelada de peixe demanda menos terra do que uma tonelada de carne bovina.


“A aquicultura não pode repetir o que fez a pecuária em Estados como Rondônia, em que se abriram muitas áreas para pastagens e, hoje, muitas são pouco produtivas ou mesmo foram abandonadas. No entanto, tem a vantagem de poder utilizar essas mesmas áreas já abertas com uma atividade muito mais sustentável”, diz Carolina Doria, professora da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e coautora do estudo.


Competição das exóticas


No cenário da aquicultura mundial, a Amazônia brasileira se destaca por produzir espécies nativas, como o tambaqui, a pirapitinga, o pacu e o pirarucu. No mundo todo, a introdução no ambiente natural de espécies exóticas, como a tilápia, trazidas pela aquicultura, causa uma série de problemas, como a competição por recursos e a predação das nativas.


Mas há forte pressão de produtores em todas as regiões do país para a liberação do cultivo de tilápia, uma vez que a espécie possui um grande mercado consumidor e um pacote tecnológico consolidado que potencializa sua produção.


Essas vantagens são fruto de um desenvolvimento tecnológico realizado fora do país, que hoje permite que a espécie seja cultivada em várias partes do globo. O Brasil, por exemplo, é o 4º maior produtor mundial de tilápia, espécie que corresponde a 65% da produção nacional de peixes.


Nesse sentido, os autores do estudo ressaltam o potencial do tambaqui, cujas populações selvagens podem fornecer genes para variedades mais produtivas e resistentes a doenças, por exemplo. Sua fuga para o ambiente natural, embora não seja desejada, também tem menor potencial destrutivo do que a de peixes exóticos (leia mais em: agencia.fapesp.br/37902).


“A aquicultura na Amazônia pode trazer segurança alimentar ao mesmo tempo em que melhora a vida das pessoas, trazendo uma fonte de renda menos incerta do que outras atividades como a própria pesca, por exemplo. Políticas voltadas para o setor, porém, precisam ter em vista tanto pequenos como médios e grandes produtores”, encerra Pacheco.


O artigo Towards sustainable aquaculture in the Amazon pode ser lido por assinantes em: www.nature.com/articles/s41893-024-01500-w.



Pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia visitam produtor no município de Alto Paraíso (foto: Jucilene Cavali)

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