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Foto do escritorSolano Ferreira

Alertas de incêndio até a metade de setembro dobraram

Uma análise feita por pesquisadores do GFW, do WRI, usando imagens de satélites de dois sistemas de monitoramento, identificou mais de 47 mil focos de incêndio entre janeiro e a segunda semana de setembro deste ano - mais do que o dobro da média das últimas duas décadas 

Foto: Freepik

Nas primeiras 37 semanas de 2024 (de 01 de janeiro a 16 de setembro) foram registrados mais de 47 mil alertas de incêndio em todo o Brasil. Esse valor é mais do que o dobro da média de 2001-2023 para as primeiras 37 semanas do ano. Os dados integram uma análise preliminar feita por pesquisadores da plataforma Global Forest Watch, do WRI, usando dois sistemas de alerta de incêndios diferentes. Os resultados sugerem que o Brasil pode estar enfrentando a pior temporada de incêndios em uma década.


Um dos sistemas pesquisados foi o sistema de alerta de incêndios derivado do sensor MODIS. Este sistema detecta anomalias térmicas, ou seja, focos ativos de fogo, no planeta, reporta estes focos diariamente e tem dados acumulados desde 2001. Ele aponta que metade dos alertas de incêndio aconteceram em área de floresta tropical primária. As florestas tropicais não costumam pegar fogo por formas naturais, como por relâmpagos, e são causadas pela ação humana, seja por processos induzidos de desmatamento ou degradação, sejam pelo descontrole do fogo utilizado em terras agrícolas. 


O outro sistema analisado é o MapBiomas, que tem dados de 1985 a agosto de 2024. Análises iniciais nos dados da plataforma mostram que entre janeiro e agosto de 2024, 11,4 milhões de hectares foram afetados por incêndios, sendo que a metade deles acontece apenas no mês de agosto. É o pior ano registrado para o período desde 1987.


Quando comparamos 2024 com o mesmo período da média entre 1985-2023, vemos que a atual temporada de incêndios está afetando uma área 75% maior do que a média, mostrando que além da quantidade de alertas, o fogo tem atingido uma área muito maior do que nos anos anteriores.


Os dados foram compilados por James MacCarthy, pesquisador do GFW. O Global Forest Watch é uma plataforma de monitoramento do uso do solo no mundo todo. Segundo ele, 2024 vive uma situação de tempestade perfeita que fez com que o problema dos incêndios se agravasse.  "Décadas de desmatamento, mudanças climáticas globais e impactos regionais do El Niño foram responsáveis por temperaturas mais altas e baixa precipitação no Brasil. Isso gerou as condições ideais para que os incêndios se alastrassem rapidamente", diz MacCarthy.


As análises mostram também que há uma tendência de aumento de incêndios ao longo das últimas duas décadas. “Estamos vendo incêndios tanto em áreas de floresta primária, que precisam ser conservadas, quanto em vegetação em regeneração, que são cruciais para cumprir as metas nacionais de restauração de ecossistemas”, diz Mirela Sandrini, diretora de Florestas, Uso da Terra e Agricultura do WRI Brasil. “O Brasil precisa não só controlar o fogo como também implementar as políticas públicas de conservação e restauração para proteger os recursos, garantir o bem-estar de sua população e cumprir com compromissos internacionais de clima e biodiversidade”, adiciona.


Apesar de 2024 ser um ano fora da curva, a tendência é de aumento nos incêndios. O GFW ainda não tem dados para 2024, apenas para 2023 - a plataforma apresenta sempre os resultados consolidados do ano anterior. Porém, a análise da tendência dos incêndios florestais mostra que eles estão aumentando no mundo todo. No Brasil, a perda de florestas causada por incêndios tem aumentado em uma média de 7% ao ano.



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