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Foto do escritorSolano Ferreira

Abelhas e café, uma mistura lucrativa e saborosa na xícara

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Foto: Divulgação - Embrapa/Renata Kelly da Silva - Abelha coletanto pólen em flores de café

















Um estudo inédito realizado por cientistas da Embrapa Meio Ambiente e da Syngenta Proteção de Cultivos demonstrou que a introdução de colônias de abelhas manejadas em fazendas de café arábica pode transformar a produção nacional e a qualidade dos grãos, aumentando significativamente o sabor e o lucro anual do setor.


Realizado entre 2021 e 2023 em propriedades de São Paulo e Minas Gerais, o estudo concluiu que a polinização assistida gera um aumento de 16,5% na produtividade por hectare, resultando em um potencial de crescimento de até R$ 22 bilhões na receita anual.


Resultados impactantes na produtividade e qualidade do café


Os pesquisadores observaram que a introdução de abelhas africanizadas (Apis mellifera) permitiu elevar a produção média de 32,5 para 37,9 sacas por hectare.


Além disso, houve impactos expressivos na qualidade sensorial do café. A nota sensorial da bebida aumentou em 2,4 pontos, elevando parte dos grãos à categoria de “cafés especiais”. Esse salto de qualidade resultou em um acréscimo de 13,15% no valor da saca, o equivalente a um ganho de US$ 25,40 por unidade.

Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa, destaca que a pesquisa demonstra a viabilidade econômica da polinização assistida como um caminho para aumentar a rentabilidade dos cafeicultores. “O uso de abelhas manejadas oferece uma oportunidade clara de ganhos econômicos, contribuindo também para uma agricultura mais sustentável e eficiente”, afirmou.


Comparação direta e inovações do estudo


Diferentemente de estudos anteriores, que focaram apenas em polinizadores silvestres, essa pesquisa controlou a introdução das colônias, permitindo uma comparação direta entre áreas com e sem polinização assistida.


Colmeias foram introduzidas em uma extremidade de cada talhão, enquanto a outra contou apenas com polinização natural. A abordagem possibilitou determinar de forma precisa os impactos na produção e na qualidade dos grãos.


Os resultados positivos motivaram cientistas a calcular um cenário em que todos os cafeicultores brasileiros adotassem a prática. Segundo as projeções, o Brasil poderia registrar um aumento de 16,5% na produtividade, elevando a produção de 39,6 milhões para 46,1 milhões de sacas, um acréscimo de 6,5 milhões de sacas.


Além disso, os dados sugerem um aumento significativo no valor da saca, que chegaria a R$ 2.014,90, contra os atuais R$ 1.780,70. No total, o impacto econômico estimado para a adoção generalizada da polinização assistida é de R$ 22,429 bilhões.


A convivência entre polinização e uso de defensivos


A pesquisa também investigou a relação entre a polinização assistida e o uso de defensivos agrícolas. Foi monitorada a saúde de colmeias expostas ao tiametoxam, um inseticida amplamente utilizado na cafeicultura.


A análise focou em três parâmetros: produção de cria, mortalidade de larvas e atividade de forrageamento, com avaliações em cinco momentos distintos. Os resultados, portanto, mostraram que, ao seguir as orientações técnicas no manejo do inseticida, a saúde das abelhas não sofreu impacto relevante.


Para Denise Alves, pesquisadora da Esalq/USP e coautora do estudo, “a integração entre a polinização assistida e o uso coordenado de defensivos é crucial para garantir a saúde dos polinizadores e a proteção da lavoura”.


Ela destacou a importância de incluir essas práticas nas políticas agrícolas para proteger os polinizadores e manter o equilíbrio dos agroecossistemas.


Benefícios econômicos e sustentabilidade


O estudo também destaca que, além das vantagens econômicas, a polinização assistida representa, portanto, uma oportunidade única para o crescimento do setor apícola no Brasil. Para cobrir toda a área plantada de café arábica, os produtores precisariam de cerca de 6 milhões de colmeias de abelhas africanizadas.


Esse manejo, além disso, criaria uma importante sinergia entre a produção agrícola e a criação de abelhas, o que resultaria em benefícios tanto econômicos quanto ambientais.

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Integração entre o manejo de polinizadores e a cafeicultura de larga escala tem impactos positivos também na maior sustentabilidade ambiental das lavouras.

Guilherme Sousa, fundador da AgroBee, uma startup que conecta criadores de abelhas com produtores rurais, enfatiza que “a polinização assistida representa um dos maiores potenciais produtivos sustentáveis a serem explorados na agricultura brasileira”. De acordo com ele, a prática contribui para a conservação da biodiversidade e otimiza a produção agrícola, aliando inovação e sustentabilidade.


Produtores como Gustavo José Facanali, que testou a técnica em suas fazendas, relatam resultados surpreendentes. Em suas propriedades, por exemplo, a produtividade aumentou de 110 para 128 sacas por hectare, com melhorias na qualidade do café. “A polinização assistida mostrou ser uma solução sustentável para os desafios da cafeicultura, especialmente diante de mudanças climáticas e instabilidade na produção”, afirmou o produtor.


Um caminho para o futuro da cafeicultura brasileira


O estudo evidencia o potencial transformador da polinização assistida para o setor cafeeiro, oferecendo um caminho estratégico para incrementar a produção e promover uma agricultura mais sustentável e responsável.  Entretanto, a prática beneficia não apenas a rentabilidade dos produtores, mas também a preservação ambiental, gerando um impacto positivo em toda a cadeia produtiva.


Jenifer Ramos, pós-doutoranda da Embrapa e coautora do estudo, considera que os resultados fornecem uma base sólida para a formulação de políticas públicas integrando sustentabilidade e produtividade. “O manejo adequado dos polinizadores melhora a qualidade do agroecossistema e gera benefícios econômicos para toda a cadeia produtiva”, conclui a pesquisadora.


Sendo assim, com essa combinação de inovação, sustentabilidade e aumento de receita, a polinização assistida se consolida como uma estratégia essencial para o futuro da cafeicultura no Brasil.


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