ONG Vaga Lume, que atua nos estados da Amazônia Legal, incentiva jovens das comunidades em que atua a compartilharem o que pensam sobre a Amazônia
No dia 5 de setembro é celebrado o Dia da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo e um dos mais importantes patrimônios naturais do planeta. A data, que homenageia a criação da Província do Amazonas em 1850, é oportuna para que se discuta a necessidade de preservar essa floresta e quais são os atuais desafios enfrentados nessa tarefa.
A ONG Vaga Lume, que há mais de duas décadas atua na chamada Amazônia Legal, promovendo a leitura, a formação de mediadores de leitura e a implantação e gestão de bibliotecas comunitárias na região, celebra a data e todo o trabalho coletivo, composto por professoras, agricultores, estudantes e donas de casa que atuam em prol da cidadania e somam forças para manter as bibliotecas em funcionamento. Para celebrar a data, conversamos com jovens do Assentamento João Batista II, em Castanhal (PA), para saber o que eles pensam sobre a mais notória floresta do planeta, onde vivem, e suas expectativas.
E, afinal, o que pensam os jovens sobre a Amazônia? Para Ana Beatriz Souza, 19 anos, é importante que os jovens se dediquem mais a preservar a natureza, e que as crianças sejam estimuladas a isso desde cedo. "Aqui no assentamento a gente ensina as crianças desde de pequenas a plantar, a colher, o significado da natureza. Também temos muitos projetos para plantar mais árvores, para no futuro colhermos esses frutos."
Já Ricardo Nasaré, de 12 anos, destaca a necessidade de unir esforços. "A gente precisa plantar mais, preservar mais, não deixar queimar. Só que uma pessoa sozinha não consegue, então a gente tem que se juntar para não deixar destruírem a Amazônia", diz. "Aos poucos, ela está acabando. As florestas estão sendo muito desmatadas, e isso é muito triste para todas as pessoas. O oxigênio precisa das plantas, e sem elas as águas secam. A água não é infinita."
"As pessoas tinham que parar de desmatar e fazer queimadas, porque isso prejudica muito o futuro não só da Amazônia, mas de todas as pessoas", diz Larissa Rebelo, de 12 anos. Glenda Lohany Leal, de 14 anos, por sua vez, ressalta que é preciso parar de poluir os igarapés. "A poluição dos rios contamina os peixes", afirma. Já Ana Vitória Menezes, de 15 anos, destaca os efeitos prejudiciais da exploração ilegal da fauna. "A gente precisa cuidar melhor dos animais, além de plantar mais, com um cultivo melhor."
William da Silva Araújo, 20 anos, gostaria que as pessoas pudessem ter uma percepção melhor do que realmente é a Amazônia. "Queria que as pessoas percebessem o que ainda existe da Amazônia. Muitas vezes buscam outras riquezas e não valorizam aquilo que já está aqui, não enxergam o que está bem ao nosso redor: o ar que a gente respira, a diversidade de fauna e flora que temos na nossa região", diz. "Acho que a gente precisa se perceber, pertencer à Amazônia, e colocar principalmente amor, porque com amor a gente consegue fazer a diferença."
O reconhecimento sobre a importância de preservar a floresta e empoderar esses jovens faz parte do trabalho cotidiano da ONG. "A Amazônia é uma região com desafios gigantes, alvo de muitas tensões sociais e ambientais, e que atrai grupos que a veem como campo de exploração, e não propõem soluções. Nessa mesma região, há pessoas com potencial de transformação, de absorver as oportunidades, de criar e reinventar as coisas. É um paradoxo? É, mas eu continuo apostando. Acredito que as pessoas da região são as únicas que vão conseguir realmente equacionar essa solução para todos nós", explica Sylvia Guimarães, cofundadora e presidente da Vaga Lume.
Levando a leitura ao coração da floresta
Atualmente, a Vaga Lume conta com 95 bibliotecas comunitárias em funcionamento, além de quatro em implantação, em comunidades rurais espalhadas por 23 municípios nos nove estados da Amazônia Legal. Ao longo de 2024, mais de 14 mil livros serão distribuídos para os espaços de leitura implantados e apoiados pelo projeto, que trabalha para o fortalecimento da cidadania por meio do incentivo à leitura na Amazônia Legal, que possui apenas 13% das bibliotecas públicas brasileiras. A região perfaz 58,9% do Brasil e é o lar de 28,1 milhões de brasileiros.
"A ONG começou como um sonho, como uma aposta na promoção da leitura como essa estratégia de transformação social. A educação é um investimento de longo prazo. É muito gratificante ver que a gente plantou sementes, as comunidades cuidaram, regaram e hoje a gente tem árvores que dão frutos, que são os mediadores de leitura, que antes eram crianças das bibliotecas, cresceram com esses espaços de leitura e hoje estão à frente dos trabalhos das bibliotecas e também ocupando outros espaços, indo para o ensino superior e atuando na vida acadêmica", diz Sylvia.
Sobre a Vaga Lume
Criada há 22 anos, a Vaga Lume está presente em 23 municípios da Amazônia Legal com 95 bibliotecas comunitárias em funcionamento e mais quatro em implantação. Desde 2001 já doou 177 mil livros e formou mais de 5 mil mediadores de leitura, voluntários que leem para as crianças, trabalho esse que já impactou a vida de 110 mil crianças e jovens. O seu propósito é empoderar crianças e jovens de comunidades rurais da Amazônia por meio da leitura e da gestão de bibliotecas comunitárias, promovendo intercâmbios culturais com a leitura, a escrita e a oralidade para ajudar a formar pessoas mais engajadas na transformação de suas realidades.
pela terceira vez, sendo duas consecutivas, a Melhor ONG de Educação do Brasil pelo Prêmio Melhores ONGs do Instituto Doar. No mesmo ano foi contemplada pelo novo prêmio United Earth Amazônia, na categoria ESG, da sigla em inglês Environmental, Social, and Corporate Governance (Ambiental, Social e Governança) e, também, foi uma das organizações selecionadas em todo o mundo para receber uma doação da filantropa MacKenzie Scott. Em 2022 foi vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura. Conheça o mini documentário Vaga Lume no YouTube e acesse o site da associação.
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