Por Joel Elias
No dia 13 de setembro de 1943, o então presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto-Lei nº 5.812, que criou os Territórios Federais do Amapá (atual estado do Amapá), Rio Branco (hoje estado de Roraima), Guaporé (atual estado de Rondônia), Ponta Porã (posteriormente extinto e reintegrado ao Mato Grosso do Sul) e Iguaçu (extinto e reintegrado aos estados do Paraná e Santa Catarina). Essa data representou um marco importante para a organização territorial da Amazônia, especialmente para a área que hoje constitui Rondônia. A criação do Território Federal de Guaporé foi um passo fundamental na integração da região ao projeto de desenvolvimento nacional, em um período de centralização política e econômica promovida pelo Estado Novo.
No entanto, esse momento decisivo na formação do que se tornaria o Estado de Rondônia, essencial para compreender o papel estratégico da Amazônia no Brasil, parece ter sido relegado ao esquecimento pelas autoridades locais. A falta de comemoração ou reflexão sobre a importância desse fato na história regional revela um desinteresse que contrasta com a relevância do decreto de 1943, tanto para o desenvolvimento da região quanto para a segurança nacional.
A criação do Território Federal de Guaporé, sabe-se hoje, foi mais do que um rearranjo administrativo. À época, a Amazônia era uma fronteira distante e negligenciada pelo poder central, com pouca infraestrutura e quase nenhuma integração ao restante do país. Ao transformar a região em Território Federal, o governo Vargas buscava garantir uma maior presença do Estado e ao mesmo tempo proteger as fronteiras brasileiras em um momento de incertezas internacionais, com a Segunda Guerra Mundial em andamento.
Essa medida trouxe consigo um novo impulso para o desenvolvimento local. A chegada de órgãos federais, a construção de infraestrutura básica e a atenção do governo central para a Amazônia Ocidental tiveram um impacto profundo na economia e na organização social da região. Essa fase de ocupação e desenvolvimento culminaria, décadas depois, com a transformação do Território de Guaporé no Estado de Rondônia em 1981, momento que simboliza a consolidação de um longo processo iniciado naquele decreto de 1943.
Apesar dessa importância histórica, a data de 13 de setembro, que poderia ser um momento de celebração e reflexão sobre as origens de Rondônia, não recebe a devida atenção por parte das autoridades locais. Não há eventos significativos que rememoram a criação do Território de Guaporé, tampouco iniciativas educacionais ou culturais que busquem preservar a memória desse episódio essencial para a formação do estado. Essa ausência de comemoração reflete o distanciamento entre a população e sua própria história, algo que deveria ser corrigido com iniciativas voltadas para a valorização do passado.
O esquecimento desse fato importante também é sintomático de uma falta de valorização mais ampla da história amazônica no cenário nacional. A região, mesmo com sua vasta contribuição para o desenvolvimento do Brasil, muitas vezes tem sua história negligenciada. Esse desinteresse local, agravado pela omissão nacional, impede que as novas gerações compreendam as lutas e desafios que moldaram o território.
Relegar ao esquecimento uma data tão importante para Rondônia não é apenas um descuido com o passado, mas também um entrave para o entendimento de como a história molda o presente. A criação do Território de Guaporé foi o ponto de partida para o desenvolvimento de Rondônia como conhecemos hoje, e essa memória deveria ser preservada para que as gerações futuras compreendam as transformações pelas quais a região passou.
As autoridades locais têm o dever de reverter esse quadro, promovendo ações que resgatem a memória desse evento e incentivando a valorização da história local. A Amazônia é uma região central para o Brasil, não apenas por suas riquezas naturais, mas por sua importância geopolítica e histórica. A data de 13 de setembro de 1943 deve ser lembrada como um marco na trajetória de Rondônia, refletindo sua integração ao Brasil e o início de um caminho de desenvolvimento que continua a moldar o estado até hoje.
É urgente que esse episódio, tão fundamental para a formação da identidade rondoniense para a história da Amazônia, seja reconhecido e celebrado com a importância que merece.
Joel Elias é jornalista atuante na Amazônia
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